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Devoção invisível

Em sua discussão acerca dos desejos humanos para o computador do futuro, Mark Weiser defendeu com garras afiadíssimas a potencial superioridade de tornar esse item cotidiano numa ferramente cada vez mais invisível.

Divergindo de nossas ficções futurísticas, Weiser coloca para jogo a tradição cultural do ser humano moderno de manter sua imagem ao centro das atenções. Nessa linha de pensamento, o funcional luta para sobreviver num ambiente narcisista de pensar no ápice tecnológico como simulação fidedigna da consciência humana.

Estaríamos simplesmente alimentando nossos egos?

Quando dizemos que a técnica deve ser encarada como apenas ferramenta para um resultado final, por exemplo, também afirmamos que o conteúdo produzido deve ter protagonismo junto ao processo que o antecede e ao usuário. Utilizar o computador deveria, portanto, ser menos sobre interfaces grandiosas e mais sobre valorizar o que é pesquisado e produzido nele.

Entendo o raciocínio por trás dessa crítica, sobretudo quando pensamos na experiência de interação verdadeiramente humana como algo de difícil simulação, que acaba por produzir "réplicas" que causam estranhamento ou tornam o processo de convívio digital pouco prático e confuso.

Por outro lado, um dispositivo como a "Siri", presente no IOs, não seria também o produto final projetado enquanto experiência? Com constantes atualizações, sua voz se torna cada vez mais humana, trazendo notícias de resultados tanto cômicos quanto de salvamento de usuários em perigo.

Devemos, portanto, tomar cuidado ao limitar a definição de inovador ou do que realmente é "o futuro" merecedor de nossa atenção. Podemos cair em velhas falácias e engessar ainda mais o desenvolvimento humano enquanto intensa atividade criativa de projetar novas experiências e soluções para necessidades cotidianas.


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